domingo, 17 de outubro de 2010

exceção.



Uma tarde vazia de Domingo. Eu estava sentada na cama rodeada de travesseiros com um livro aberto entre as mãos, imersa em palavras que são a unica coisa que eu tenho pra me esquecer do mundo real que tanto tem me assustado nos últimos dias. Sempre achei que "tudo me faz lembrar você" também fosse algo reservado à ficção, mas hoje vejo que não.

E eu não estou mentindo.

Ao virar mais uma página fui interrompida pelo som da porta. Dois toques leves e sem ritmo me fizeram parar na parte em que ele diz: "O mundo não me interessa sem você." e logo pude ouvir um grunhido fraco da mesma, que se abria vagarosamente a minha frente. Coloquei o livro ao meu lado e mantive os olhos fixos no rosto delicado de expressões suaves e cabelos claros que me fitava e passava timidamente pela porta com as mãos para trás.

A pequena, com metade da minha idade, abriu um sorriso infantil inconfundível e estendendo as mãozinhas que ainda estavam escondendo algo, disse:

- Trouxe pra você. - Seus olhos de criança brilhavam enquanto ela me oferecia o papel com linhas irregulares e traços fortes que formavam duas meninas de mãos dadas. Peguei o papel delicadamente de suas pequenas mãos e logo imaginei que as meninas do desenho representavam nós duas.

E era assim que deveríamos estar, sempre de mãos dadas.

Minha expressão surpresa e a ausência de palavras a fez continuar:

- Seu aniversário está chegando, esse é o primeiro presente! - A falta de qualquer malícia entre suas palavras me fizeram sentir saudade da minha infância, tudo parecia tão fácil, eu era tão feliz...

Aniversário... presente... isso era o que menos me importava agora, algumas coisas ainda tomavam meu tempo com lapsos de memória que me machucavam mais a cada segundo.

As palavras da garota que ainda me olhava sorrindo me puxaram de volta ao tempo e a realidade.

- Obrigada! - Foi tudo o que consegui dizer. Beijei sua bochecha rosada e a abracei, agradecendo em silêncio por estar ali.

As dores causadas pelo amor são uma triste consequência a qual todos estamos sujeitos a passar. Alguns com mais, outros com menos intensidade, porém pelo mesmo motivo.

A solidão é o sentimento imediato. Culpa, lágrimas e dor são sucessões. Mas a verdade é que ainda existe uma certeza: sempre haverá alguém pra te dizer em gestos que você é importante. Sempre haverá um papel com personagens unidos que te fará entender que alguém quer te dar as mãos, e talvez, nunca mais soltá-las.

E isso te fará sorrir novamente, nem que apenas por um momento.

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