Tarde de verão.

Passei os olhos rapidamente pelo lugar e logo eles se fixaram na velha mesa de canto, as cadeiras alinhadas e o vidro que me permitia olhar a rua, o movimento dos carros, as expressões e a rapidez de quem andava por ali todos os dias, no mesmo horário.

A pintura das paredes com o tom familiar de creme estava descascando, o assoalho parecia mais desgastado e havia dois novos funcionários. Aparentemente essas eram as únicas mudanças.

Costumava ir àquela lanchonete todas as tardes. Senti uma espécie de nostalgia ao passar pela porta, lembrando-me bem do lugar que, para mim, fazia parte da rotina de um tempo atrás.

Me dirigi automaticamente ao meu lugar de sempre, como costumava ser. Sentei e apoiei os cotovelos sobre o cardápio em cima da mesa, fitei o vidro, a vista que me proporcionava aquele velho canto ao fundo. Já fazia anos...

Em algum momento em que me desfiz dos meus pensamentos me dei conta da presença de alguém ao meu lado. Ergui o olhar.

- Olá. - Os olhos azuis me olhavam, um pouco sem jeito. Seus lábios demonstravam certa insegurança.

- Oi! Uau... Quanto tempo! - Percebi que eu também estava um pouco sem jeito.

- Pois é! Passando o verão por aqui?

- Aham. Bem, vim visitar meus avós.

- Ah, claro. - E o assunto rapidamente se foi.

- Vai ficar por aí mesmo? Que tal se sentar? Eu não sou uma garota má! - Eu quebrei o silêncio e ele deu uma risada fraca com o que havia ouvido.

- Obrigado. - Ele se sentou à minha frente, como nos velhos tempos. - Eaí, como vai a escola e sua... Hum... Nova vida?

Por um momento me senti em uma daquelas conversas típicas da terceira idade.

- Bom, estou me preparando para a universidade. Tenho estudado e procurado bons cursos. Daqui alguns meses estarei no exterior fazendo faculdade. Pelo menos, faz parte dos meus planos!

- Puxa, incrível! Você sempre teve grandes sonhos...

- Espero torná-los realidade.

- Você vai, tenho certeza.

Eu sorri. - E você, me conte... O que há de novo por aqui? Planos...?

- Ah, você sabe né? Cidade pequena, sem grandes oportunidades. Estou cuidando da oficina do meu pai.

- Estudar é importante...

- Sim, claro! Pretendo ir para a universidade, só não sei se estou preparado para deixar meus pais e a Tess, ela é pequena... Acho que ainda precisa do irmão mais velho protetor...

- E chato! - Eu completei, brincando.

Ele deu o que parecia ser um meio sorriso - Talvez.

- E o que pensa em fazer?

- Música sempre foi meu grande sonho...

- É, me recordo - Ao terminar a frase senti meu rosto quente devido ao modo ao qual ele me fitava. - Hm... Que tal um Milk-shake?

- Ah, claro... Eu adoraria! - Ele desviou o olhar, um pouco sem graça ao perceber a reação que provocou em mim.

Passamos algumas horas ali sem perceber, simplesmente jogando conversa fora e relembrando momentos. Quando me dei conta, já havia escurecido e os funcionários estavam limpando o lugar, éramos os únicos ali. Sinal de que deveríamos ir embora.

- Quando você vai voltar pra sua casa? - Ele perguntou quando já estávamos na calçada.

- Ah, vou ficar aqui até o fim das férias. Na verdade eu nem sei que dia é hoje!

Ele abaixou a cabeça, sua decepção e tristeza eram perceptíveis até para quem não o conhecia. Seu olhar pareceu, por um momento, ter enchido de lágrimas. Ele colocou as mãos nos bolsos.

- Eu disse algo errado? - Perguntei, preocupada com sua expressão.

- Hoje é dia 27 de Janeiro, e faríamos dois anos de namoro se ainda estivéssemos juntos. - Ele finalmente ergueu os olhos e me encarou. Uma lágrima sutil, sem que estivesse sob seu controle, escapou de seus olhos.